Château Palmer Historical XIXth Century Blend
Confesso que fiquei bastante intrigado com esse vinho, afinal ele era um “Vin de table“, a classificação mais simples de um vinho francês, elaborado no prestigiado Château Palmer e do qual eu nunca havia ouvido falar! Depois de degustá-lo ao lado de outros belos vinhos, fui em busca de suas origens…
Com o intuito de homenagear os vinhos feitos na propriedade dois séculos atrás, o Château Palmer decidiu lançar em 2004, um vinho surpreendente e que fugia das regras de sua apelação (daí sua classificação como Vin de table) e adicionava em seu corte um percentual da casta Syrah produzida no Rhône.
Surgia assim o ” Historical XIXth Century Blend”, um vinho bordalês com a “alma” do século XIX, quando os vinhos do Rhône (especialmente os Hermitages) eram eventualmente adicionados na mistura dos vinhos de Bordeaux com o intuito de intensificar seu corpo.
A primeira safra de 2004 teve uma produção de apenas 100 caixas, com um blend de 85% de castas bordalesas (CS e Merlot) e 15% da Syrah vinda do Rhône. Em 2005, pela singularidade da safra, ele não foi produzido e voltou em 2006 (foi esse que degustei) e 2007. Desde a safra 2010 ele teve um aumento significativo de produção e poderá ser encontrado mais facilmente nas lojas especializadas.
Não se assuste ou suspeite da aparência de seu rótulo, já que ele dá a impressão de ser uma imitação simplória de um vinho do Château Palmer. Por ser um “Vin de France” (a legislação francesa rebatizou recentemente o termo Vin de table), ele não indica que é um vinho de Bordeaux ou informa a safra, nem tem o logotipo do Château Palmer. O único indicativo da safra é um pequeno código na base do rótulo, nesse caso, L20.06, indicando que foi produzido na safra 2006. Disfarçadamente, o rótulo sugere sua origem, dadas suas cores e semelhança com o seu vinho mais conhecido.
Impressões de degustação:
Apesar de todas essas curiosidades, o que interessa mesmo é o conteúdo e o vinho não deixou por menos: sua coloração rubi escura não indicava a presença da Syrah (que eu ainda não havia identificado naquele momento, apenas suspeitado) mas os aromas e o paladar traziam algumas de suas nuances. Revelou nos aromas muita presença de frutas negras (ameixas e blackberries) e notas defumadas e de pimenta do reino. Depois de uma meia hora no decanter, os aromas se abriram mais e revelaram também um delicioso traço floral. Paladar rico, muito encorpado, presença discreta de madeira e acidez mediana. O final muito sedoso parece ter sido a maior contribuição da Syrah, deixando o vinho muito fácil de beber.
Uma interessante “viagem no tempo vínico” que me trouxe a noção daquilo que os viticultores da época procuravam adicionar a seus vinhos. Bela sacada do Château Palmer!