Curiosamente, enquanto aguardávamos o início da degustação, comentei com alguns participantes que acreditava que, se estivesse entre os participantes, o Brunello de Biondi-Santi teria o pior desempenho (algo que realmente aconteceu: os dois Annatas 2005 ficaram nos últimos lugares). Essa “premonição” era apenas a constatação do resultado de duas outras degustações anteriores (uma às cegas e outra aberta) de Brunellos, onde o Biondi-Santi também teve uma performance pífia. Como diz um amigo meu, com certo exagero, “os Brunellos de Biondi-Santi tem o pior custo x benefício do mundo!”
Antes que alguém diga que um Biondi-Santi, pelo estilo tradicional de vinificação necessite de 15 a 20 anos para se desenvolver plenamente (algo que eu concordo), um Soldera Riserva, por exemplo, também elaborado de modo tradicional, já está esplendoroso antes mesmo da primeira década de vida, pelo menos foi o que observei nas vezes em que degustei safras jovens deste vinho (veja no post).
Entramos então na discussão de quem é “tradicional” e quem é “moderno” neste painel, que a grosso modo, significaria dizer que os primeiros são aqueles que fazem o amadurecimento de seus vinhos em grandes botti (3 a 5 mil litros de capacidade) de carvalho eslavônio (Croata), enquanto os demais se valem do uso de barricas de carvalho francês (225 litros) ou da mescla com os botti, para afinar seus vinhos. Um embate entre aqueles que querem manter a estrutura e os aromas tradicionais de um Brunello e daqueles que investem na elegância e harmonia associadas aos métodos mais modernos.
Apesar dos últimos lugares dos dois exemplares do Biondi-Santi (tradicional) e do 1º lugar do Piccini Villa al Cortile (moderno), a classificação dos vinhos do painel, inclusive com as avaliações feitas pela Wine Advocate e Wine Spectator, e o tipo de amadurecimento utilizado em cada um destes excepcionais brunellos, dá a exata noção de que as duas correntes possuem méritos próprios, podendo oferecer aos enófilos e “brunellistas” de todo o mundo, vinhos de grande qualidade.
Minha preferência pessoal ficou bem próxima da classificação geral, exceto justamente pelo vinho vencedor (ficaria em 6º). O meu predileto foi o 2º colocado, o La Velona Riserva 2004, seguido do Casanova di Neri e Madonna del Piano (ambos 2004). A grande diferença qualitativa das safras 2004 e 2005, também pode ter contribuído para o mau desempenho deste últimos, especialmente dos “difíceis” vinhos do Biondi-Santi…