“Boutique” desperta uma sensação irritante de que se está prestes a pagar um “prêmio” pela pretensa qualidade e exclusividade de um vinho que não necessariamente as tem. Quão grande afinal é a produção de um vinho de “boutique”? 2.000 garrafas? 2.000 caixas? Não há nada de errado em ser uma vinícola “boutique”, mas para que olha de fora, pode parecer que essa é uma descrição falsa até que você mesmo se convença do contrário.
De acordo com o Guinness Book of Records, a videira mais antiga ainda produzindo uvas é uma videira de Žametovka, uma variedade tinta local de Maribor, na Eslovênia, que tem registros confiáveis que a remetem ao século XVII. A cada ano, algo entre 35 e 55 kg de uvas são colhidas para elaborar pequenas garrafas de um vinho dado de presente cerimonial para personalidades como Bill Clinton, o (ex) Papa Bento XVI e Arnold Schwarzenegger.
Por que o vinho é a única coisa a ser classificada desta maneira? Nenhum crítico sonharia em atribuir 100 pontos para uma música ou obra de arte. Mais importante ainda, só porque um amigo diz Jane Austen representa o ápice da literatura inglesa, isso não garante que você vá apreciar qualquer um de seus romances.
Mesmo que você aceite que as pontuações, quando combinadas com uma compreensão do paladar de um crítico específico têm um papel útil a desempenhar, certamente há algo bastante desanimador sobre o que está sendo dito, diante de sua própria experiência diante de um vinho qualquer. Certamente não é justo impor um fardo tão pesado sobre os pobres vinhos. E se você não estiver realmente com vontade de beber um Bordeaux naquela noite? Ou se ele ainda precisa de mais 20 anos de guarda? E se você achar que, secretamente, um bom Cru do Beaujolais iria muito bem com a comida da ocasião?
Na verdade, é difícil ver os vinhos de 100 pontos como algo mais que uma “muleta” para os egos dos ricos incapazes de ter um pensamento independente sobre o vinho que estão bebendo.
É possivel rastrear a origem moderna do uso do termo: a gigante de bebidas Pernod Ricard. No entanto, ao contrário do que vemos por aí, ela cunhou a expressão para qualificar com clareza as bebidas alcoólicas que estavam dentro do “Índice 120”, ou seja, 20% acima do preço médio de sua categoria no mercado de varejo. Por exemplo, poderíamos dizer que um vinho de mais de R$60 no supermercado seria “premium” se fosse enquadrado na mesma categoria de vinhos cujo preço médio fosse de R$50. Ao que parece, o uso atual é bem diferente do sentido original a que foi proposto…